sábado, 4 de dezembro de 2010

A chuva. A morte e o renascer.

Agora é tempo de chuva aqui em Belém, na verdade, sempre é. Mas neste período de final de ano até o início da ano que ainda vem, estas são mais acentuadas.
Este período sempre me deu medo. Pois a chuva sempre que vem leva algo consigo.
A cidade de Belém é repleta de mangueiras, e neste período chuvoso é bem perigoso passar debaixo de uma. O vento provocado pela chuva sempre derruba mangas, no caso da minha casa: jacas, a chuva sempre derruba uma jaca aqui em casa, rs, e deixa um lamaçal tremendo e um mal cheiro também.
 A chuva leva tudo o que vê pela frente.E afinal, leva pessoas também.
Na verdade, não sei se estou sendo injusta ao culpar a chuva por isso.
Mas acontece que sempre que entramos neste período chuvoso pessoas queridas vão embora da minha vida. Pra sempre!
Meu avó quando eu tinha 10 anos de idade faleceu e olha só, estava chovendo neste dia. O céu nublado, eu lembro bem.
Dizem que eu era a neta querida dele. Era  a caçula também.
Eu me lembro com muito carinho dele...

No começo deste ano meu tio de 50 anos morreu inesperadamente de um câncer que ninguém sabia...

Mês passado a chuva chegou em Belém e olha só, já começou a fazer suas desgraças.
Minha vó de 73 anos de idade também faleceu. Muitas pessoas dizem:- Há mais ela já tinha 73 anos!
Sim, e uma saúde de ferro, eu digo. 
Como ela mesmo dizia: - Eu não me troco por uma garota de 20! hehe
Ela tinha um senso de humor...
A chuva chegou, e num dia desses trouxe a morte consigo. Ela a levou, e nem pude me despedir.
Dizem que eu era também sua neta preferida.
Lembro-me que a última vez que a vi eu estava no ônibus voltando da faculdade. Meu ônibus passou em frente a casa dela e, ela estava lá sentada na sua cadeirinha de balanço fazendo seu crochê, e como ela gostava de fazer crochê. Lembro-me de uma blusa que uma vez fez pra mim, que por sinal, não faço idéia de onde esteja. Eu a vi sentada na cadeira pela janela do ônibus e de repente deu-me uma vontade de descer e ir lá perguntar como ela estava. Mas eu estava muito cansada pra isso. E não fui...e não mais a vi senão naquele caixão!
Dizem que ela reclamava por eu quase não ir visitá-la.

Sabe, sei que sobre a morte nada podemos fazer. Por mais que pensemos em inúmeras coisas que poderiam ter evitado o incidente. Mas nada, nada pode ser feito quando se chega a hora de fato.
Mas eu tenho aprendido bastante sobre a morte, quer dizer, eu acho que tenho aprendido.
Às vezes me pego pensando sobre o assunto e muitas vezes sinto medo. Calafrios.

Contudo, sei que a chuva talvez não seja algo tão ruim assim.Nem a morte!
A chuva por mais incrível que possa parecer, ou melhor, que eu possa acreditar, também pode consigo trazer a vida. 
O que seria das plantas sem a chuva? Sem o alimento que às fazem crescer e crescer...
e consequentemente o que seria a vida sem ela, a chuva? 
Ela renasce plantinhas ressecadas pelo sol, dando-lhes vitalidade e força para continuar a crescer.

Veja a morte também traz consigo o renascimento, é horrível nos separarmos fisicamente de alguém, ainda mais quando a separação traz consigo mágoas e ou ressentimentos.
Porém, não devemos encarar a morte como algo tão ruim. As pessoas morrem para este mundo cruel em que vivemos e renascem num mundo melhor. A morte é a única esperança do ser humano de uma vida melhor...
Vejo desgraças a todo momento e isso me dá  náuseas.
O que podemos esperar é que realmente exista um pote de ouro no fim do arco-íris. 
Uma nova vida!Uma esperança!

Continua chovendo muito aqui em Belém. 
E ontem a chuva me levou um outro alguém especial. Só que dessa vez não foi a morte que veio camuflada com a chuva, foi a própria vida. É, eu perdi para a vida.
E sinto que foi pra sempre...

Dessa vez eu poderia ter evitado tudo. Mas nada fiz para tal...
Eu poderia ter evitado essa morte em vida.Poderia sim!

Se eu apenas tivesse vivido de verdade, deixado o amor viver em mim de verdade...
Mas eu não deixei o amor viver. Deixei que o orgulho,o egoísmo, a insegurança e a obsessão ocupassem o seu espaço e aos poucos ele foi morrendo...

E agora ele já se foi, e não há mais nada que eu possa fazer...
Ele partiu não tão inesperadamente. Sua morte foi um tanto previsível. Mas me fiz de cega quando poderia ter evitado tudo...
Eu pisei nas suas crenças, fiz piada de seu sentimento...
E agora eu não o tenho mais aqui perto de mim. Tá doendo muito, muito. Só eu sei o quanto.
Mas sei que ele vai alçar vôos muito altos. E vai encontrar um outro coração para amá-lo e assim renascer novamente.

Na verdade, eu sinto que em mim ele ainda está vivo, tentando resistir no meio de tanta coisa ruim. Mas, apenas 50% dele ainda resiste em viver.

Sua outra parte, sua metade já morreu...

Mas a metade que vive em mim e a trancos e barrancos tenta resistir, vai ficar guardada num lugar muito especial, na memória. 
Até que um dia volte novamente a viver ou enfim, morrer de vez.


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Seguirá contudo cantando a velha canção que embala os corações despedaçados:

"Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar. Que tudo era pra sempre, sem saber. Que o pra sempre , sempre acaba..."




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